2014/01/18 17:50:00 A perspectiva do mestrado como formação do pesquisador: quatro aspectos em questão. 3
- 授業紹介
- Felisberto Sabino da Costa フェリズベルト・コスタ
Ciência e arte, não necessariamente são domínios antagônicos, o diálogo por elas estabelecido pode gerar avanços significativos não apenas em relação à pesquisa, mas ao repertório crítico do pesquisador em formação. É nessa confluência, por exemplo, que Gilberto Freyre elabora “Casa Grande e Senzala”, uma “autobiografia coletiva”, considerada cientifica e literária. Sociólogo, antropólogo e escritor, o seu método de análise mescla poesia e ciência, associa a vivência pessoal à memória coletiva. Freyre recorre à experiência vivida pelo corpo, à memória do vivido na consecução do seu trabalho, (DINIZ, Clarissa & HEITOR, Gleyce, 2010), a partir de um processo investigativo que denominou “método da saudade”.
Grosso modo, podemos dizer que citação é o ato de apresentar a obra (ou a fala) de outro autor na sua obra, um diálogo que se estabelece entre ambos. Conforme nos diz Bakhtin:
Por mais monológico que seja um enunciado (uma obra científica ou filosófica, por exemplo), por mais que se concentre no seu objeto, ele não pode deixar de ser também, em certo grau, uma resposta ao que foi dito sobre o mesmo objeto, >sobre o mesmo problema, ainda que esse caráter de resposta não receba uma expressão externa bem perceptivel. (BAKHIN 1997, p. 317).
Ao articular novas reflexões aos ditos anteriores, pode-se afirmar que a pesquisa avança o conhecimento por meio do diálogo. Contribuição que se dá na aceitação ou recusa das ideias do outro. A essa coisa adicionada, mesmo que seja “pouca”, podemos chamar “originalidade”. Assim, originalidade tem como esteio a resposta ao outro, tal como diz Bakhtin. Referir-se ao outro é fator que enriquece o trabalho de um pesquisador em formação, dado que é um exercício de autoconhecimento e descentração.
Geralmente, nos livros normativos, a citação possui regras que buscam precisá-la quanto à formatação e inserção num trabalho. Porém, não estamos nos referindo a essa camada superficial, mas a processos, como, por exemplo, o “apagamento da autoria” que é definida como “meio plagio” pela pesquisadora Eni Orlandi. Conforme observa “sejam alunos em relação aos mestres, sejam colegas a respeito de colegas, as pessoas se autorizam a não referir suas ideias a ideias já ditas (2007, p.135), e, sob esse aspecto, jogam “com o principio de autoria trazendo-a indevidamente para si (2007, p. 138).
Por fim, é oportuno observar que a bibliografia se constitui como citação. Elaborar o referencial bibliográfico é citar a origem, é revelar o marco a partir do qual o pesquisador em formação construiu a sua jornada. Afirmar sua originalidade é revelar o embasamento. A citação é um exercício ético, principalmente, no nosso tempo, em que a ideia de autoria vem sendo repensada.
Os quatro tópicos acima discutidos apenas tocam na pele de questões que acreditamos ser fundamentais e precisam ser aprofundadas sob a perspectiva do mestrado como momento de formação do pesquisador. Um momento de crise, no sentido positivo do termo, mesmo que gerando angústia, dado que ela é que move as ações. O mestrado é o momento de descobertas, de escolhas, de aceitações e recusas. Mais do que traçar um caminho, é necessário saber, como se locomover. È necessário ousar, viabilizar caminhos para as ideias novas.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
DESCARTES, R. Discurso do Método. Porto Alegre; L&PM, 2009.
DINIZ, Clarissa & HEITOR, Gleyce (ORG.) Gilberto Freyre. Coleção Pensamento Crítico. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2010.
HOMERO. Ilíada e Odisseia. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
ORLANDI, Eni P. As formas do silêncio. Campinas; Editora da Unicamp, 2007.
SCHLEGEL, F. Dialeto dos fragmentos. S. Paulo: Iluminuras, 1997. [Fragmentos críticos,
Liceum [78]
VELOSO, C. Os Argonautas. In: www.letras.mus.br/Caetano Veloso/44761. Acesso 28 ago 2013.
O discurso do outro: a citação
Grosso modo, podemos dizer que citação é o ato de apresentar a obra (ou a fala) de outro autor na sua obra, um diálogo que se estabelece entre ambos. Conforme nos diz Bakhtin:
Por mais monológico que seja um enunciado (uma obra científica ou filosófica, por exemplo), por mais que se concentre no seu objeto, ele não pode deixar de ser também, em certo grau, uma resposta ao que foi dito sobre o mesmo objeto, >sobre o mesmo problema, ainda que esse caráter de resposta não receba uma expressão externa bem perceptivel. (BAKHIN 1997, p. 317).
Ao articular novas reflexões aos ditos anteriores, pode-se afirmar que a pesquisa avança o conhecimento por meio do diálogo. Contribuição que se dá na aceitação ou recusa das ideias do outro. A essa coisa adicionada, mesmo que seja “pouca”, podemos chamar “originalidade”. Assim, originalidade tem como esteio a resposta ao outro, tal como diz Bakhtin. Referir-se ao outro é fator que enriquece o trabalho de um pesquisador em formação, dado que é um exercício de autoconhecimento e descentração.
Geralmente, nos livros normativos, a citação possui regras que buscam precisá-la quanto à formatação e inserção num trabalho. Porém, não estamos nos referindo a essa camada superficial, mas a processos, como, por exemplo, o “apagamento da autoria” que é definida como “meio plagio” pela pesquisadora Eni Orlandi. Conforme observa “sejam alunos em relação aos mestres, sejam colegas a respeito de colegas, as pessoas se autorizam a não referir suas ideias a ideias já ditas (2007, p.135), e, sob esse aspecto, jogam “com o principio de autoria trazendo-a indevidamente para si (2007, p. 138).
Por fim, é oportuno observar que a bibliografia se constitui como citação. Elaborar o referencial bibliográfico é citar a origem, é revelar o marco a partir do qual o pesquisador em formação construiu a sua jornada. Afirmar sua originalidade é revelar o embasamento. A citação é um exercício ético, principalmente, no nosso tempo, em que a ideia de autoria vem sendo repensada.
Os quatro tópicos acima discutidos apenas tocam na pele de questões que acreditamos ser fundamentais e precisam ser aprofundadas sob a perspectiva do mestrado como momento de formação do pesquisador. Um momento de crise, no sentido positivo do termo, mesmo que gerando angústia, dado que ela é que move as ações. O mestrado é o momento de descobertas, de escolhas, de aceitações e recusas. Mais do que traçar um caminho, é necessário saber, como se locomover. È necessário ousar, viabilizar caminhos para as ideias novas.
Referências Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
DESCARTES, R. Discurso do Método. Porto Alegre; L&PM, 2009.
DINIZ, Clarissa & HEITOR, Gleyce (ORG.) Gilberto Freyre. Coleção Pensamento Crítico. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2010.
HOMERO. Ilíada e Odisseia. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
ORLANDI, Eni P. As formas do silêncio. Campinas; Editora da Unicamp, 2007.
SCHLEGEL, F. Dialeto dos fragmentos. S. Paulo: Iluminuras, 1997. [Fragmentos críticos,
Liceum [78]
VELOSO, C. Os Argonautas. In: www.letras.mus.br/Caetano Veloso/44761. Acesso 28 ago 2013.